É dezembro de 1957 e dois
anos após os fatos narrados em A Sombra do Vento. Daniel prossegue sua vida agora casado
com Beatriz e pai do pequeno Julián. Os negócios da livraria vão mal, mas essa
não é a única preocupação do rapaz. Além das vendas escassas, Daniel tem também
se preocupado com o comportamento estranho de Fermín as vésperas de seu
casamento com Bernarda e, mais tarde, também com o segredo que Beatriz escondia
e que poderia abalar sua relação.
Mas o cenário nem um
pouco animador se torna ainda pior quando um homem estranho com a mão de
porcelana visita a loja e compra um exemplar raro de O Conde de Monte
Cristo, o item mais caro da livraria, e deixa nele uma dedicatória inquietante
endereçada a Fermín: “Para Fermín Romero
de Torres, que retornou de entre os mortos e tem a chave do futuro”.
Irrequieto com aquele mistério Daniel resolve investigar quem seria o homem
misterioso, descobre onde esteva hospedado e o mais inquietante: que este usava
um nome falso, o do próprio Fermín.
O rapaz resolve colocar o
amigo contra a parede, falar da visita do enigmático homem e expor os fatos que
descobrira. Após muita insistência e também se abrir com Fermín sobre as
dúvidas que o persegue em relação a Beatriz, ele consegue que o amigo também se
abra e explique sua conexão com o homem da mão de porcelana. Nesse momento,
somos transportados para o passado de Fermín Romero de Torres, para a época
quando ele foi feito prisioneiro pelo regime franquista que ascendia após a
Guerra Civil Espanhola, torturado e preso no Castelo de Montjuic,
local onde seu destino começa a convergir em direção aos dos Sempere.
O Prisioneiro
do Céu possui uma trama que é bem mais próxima ao etilo de A Sombra do Vento do que da
atmosfera gótica e sobrenatural de O Jogo do Anjo, porém bem
menos romantizado do que o primeiro e substancialmente menos sombrio e dúbio se
comparado ao segundo. É um livro de memórias e confluências e a preparação para
o livro seguinte e derradeiro: O Labirinto dos
Espíritos. Aqui parte dos personagens de A Sombra do Vento se encontram com os d’O Jogo do Anjo, novos personagens são incluídos e a ligação entre
Fermín e os Sempere é finalmente esclarecida.
Assim como os demais O
Prisioneiro do Céu é um livro magnético que prende o seu leitor em uma
leitura voraz e muito rápida. A literatura
somada a história de Barcelona nas primeiras décadas do século XX continuam
sendo os principais fios condutores da trama e para cada personagem a
literatura é também sua inspiração, seu meio de vida, sua salvação ou sua
desgraça. Mas, dessa vez, Zafón também buscou na literatura universal
inspiração para escrever. O Conde de
Monte Cristo livro de Alexandre Dumas é citado diversas vezes ao longo da
trama e cumpre no enredo desse terceiro livro um papel crucial e central, se
misturando à própria narrativa e fazendo da prisão barcelonesa de Montjuic (Castillo de Montjuic) a reencarnação do próprio Château d'If (Castelo de If).
Zafón mantém nesse livro uma
escrita impecável, mas achei bem menos poética, mais crua e prática do que nos
livros anteriores. É certo que o lirismo de que se vale para escrever seus
livros é bem dosado e aprece em momentos bem estratégicos sobretudo nos quais
ele descreve os cenários e a atmosfera geral da cidade de Barcelona. Mas achei
que nesse livro ele buscou se preocupar bem menos com a estética e
concentrou-se mais na história.
O desfecho do livro é muito interessante e deixa muitas
coisas pelo caminho: perguntas não respondidas, mistérios não explicados e um
desejo visível de vingança. Esses elementos nos fazem ter uma ideia de que o
livro que se segue e com o qual, enfim, Zafón encerra a trama do Cemitério dos Livros Esquecidos, deverá
ter muitos desdobramentos e uma história arrebatadora. Essa é a minha
expectativa. Pelo tamanho do tomo - que conta com 679 páginas - há muita história a
ser contada em O Labirinto dos Espíritos e se a qualidade da série foi mantida até o fim, esse,
sem dúvida, será um final inesquecível.
A capa é ao mesmo tempo
bonita, elegante e combina com sua narrativa. Digo seguramente que é o livro mais bonito da minha biblioteca.
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