Beleza e Tristeza – Yasunari Kawabata – Resenha Resumida

Resenhista: Eric Silva, do blog Conhecer Tudo.

Narrado em terceira pessoa e ambientado em um Japão que se adaptava a entrada da influência ocidental, a narrativa de Beleza e Tristeza (美しさと哀しみとconta a história de Oki Toshio, um escritor japonês, que viaja para Quioto em busca de se reunir com uma antiga amante, Otoko Ueno, agora uma artista plástica, para tentar reconciliar o relacionamento rompido no passado de forma trágica.

Escrito na década de 1960, Beleza e Tristeza é um dos últimos escritos de Yasunari Kawabata (川端康成) antes que o autor cometesse suicídio em 1972. É um livro marcado por sentimentos fortes e conflitantes como ressentimento, arrependimento, amor, desejo, ódio, vingança, obsessão, infidelidade e covardia, porém com um traçado abstrato muito forte, pois, como afirma Teixeira Coelho em seu prefácio, trata-se de um “romance que recorre ao simbólico e ao abstrato para tocar mais fundo no concreto e no real”.

Um tanto monótono, mas belo e profundo, Beleza e Tristeza expressa com sensibilidade aguçada a tragédia humana, o descompasso das paixões desmedidas e irresponsáveis. Expressa com clareza o lado egoísta, maquiavélico e dissimulado do espírito humano quando entregue ao desejo de vingança. Como parece ser o estilo da literatura japonesa esse é um livro bastante contemplativo e introspectivo, pois destaca e dá preferência ao universo interior – psicológico – de seus personagens. É em essência uma obra que exprime a natureza contraditória dos seres humanos, principalmente quando fala de como nos deixamos facilmente levar pelos ímpetos dos desejos sem medir as consequências de nossos atos ou pensar no sofrimento que deles pode decorrer.

O mundo das artes é sem dúvidas uma das principais marcas e planos de fundo do romance de Kawabata, e entorno desse mundo gravitam seus personagens. A arte é retratada como expressão dos sentimentos e experiências pessoais, das desilusões e amarguras, e por ser cheia de significados é também contemplativa e para ser contemplada. Esses sentimentos são expressos com intensidade através da arte, e por serem intensos o que é triste se expressa como algo de rara beleza.

O ponto fraco do livro e que o tornaria impopular entre as novas gerações de leitores é sua monotonia causada pelo caráter introspectivo e abstrato. A narrativa arrastada e com longas incursões pelo psicológico e passado dos protagonistas, torna o livro pouco instigante na maior parte de seu enredo, mesmo que a linguagem seja acessível e não muito erudita.

Com um enredo cheio de sutilezas e silêncios que caminham inexoravelmente para a tragédia, Kawabata escolheu para seu livro um desfecho em aberto, em suspenso, abrupto, interrogativo e sugestivo. Um desfecho que incomoda o seu leitor assim como nos alerta Teixeira Coelho, no prefácio do livro, e isso só fez do final de Beleza e Tristeza a parte mais interessante e instigante do livro.



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