A Comédia Trágica ou a Tragédia Cômica de Sr. Punch - Neil Gaiman e Dave McKean - Resenha Resumida

Resenhista: Eric Silva, do blog Conhecer Tudo.

Escrito por Neil Gaiman com ilustrações de Dave McKean, essa é uma Graphic Novel que narra as lembranças de um menino durante sua estadia na casa dos avôs, na cinzenta Portsmouth, Inglaterra.

Nela o narrador personagem vai rememorando momentos soltos daqueles dias, da sua infância e das pessoas com quem convivera, sobretudo o avô, que enlouquecera, o tio-avô deficiente físico, Morton, e um velho mestre de fantoches que interpretava a tradicional e violenta peça de Punch & Judy que dá nome a obra. Aos poucos ele vai desenterrando segredos de família e demarcando de forma subjetiva o momento do fim da sua infância.

O enredo é dos mais monótonos, sacais, ainda que a subjetividade das lembranças e a complexidade das relações humanas ali engendradas sejam bem interessantes.

O personagem de maior destaque é o narrador quando menino, uma vez que todas as lembranças são postas segundo sua própria percepção, reconstruídas, remontadas ou até distorcidas pela sua memória ao mesmo tempo que aumentadas pela visão que tinha do mundo ainda na infância. Por todas estas coisas descrevê-lo é difícil, porque a imagem do menino desta narrativa não é confiável, é a construção e reconstrução da percepção que o adulto tem de si mesmo, de como se lembra no passado, de como se imagina ter sido ante os fragmentos que restam de algo extinto, a reminiscência, a memória.

Mais curiosa do que a narrativa é a estética tão distante de tudo o que eu já tenha visto. A ilustração se faz numa confusão de elementos. Desenho, pintura, fotografia e até recorte de texto se sobrepõem como em uma colagem, oscilando entre tons pesados e sombrios, cores frias, neutras, vermelhos sanguíneos, muito bege e sépia.

Os sentimentos de nostalgia da recordação, as sombras de um passado em parte incompreendido, o medo, a loucura, a monotonia das pessoas e do lugar, tudo isso é expresso pela cor e pela imagem que mistura fotografia e desenho. Enfim, a arte estética foi o ponto que me impressionou na obra assim como a profundidade de algumas poucas passagens carregadas de melancolia, mas nem por isso mentirosas.


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