Seis grandes
deuses criaram o mundo, a humanidade e além dela outras cinco raças: os Anões,
os Kaorshs, os Gnolls, os Gigantes e os Sinfos. No plano terreno cada raça
possuía seus próprios dons e papéis, porém, os humanos, incitando a discórdia e
a inveja entre as raças, iniciaram uma guerra entre espécies, o que muito desagradou
aos deuses. Enfurecidos com a ingratidão de suas criaturas, os seis deuses
puniram severamente cada uma das espécies e reduziu o mundo a um grande
deserto, onde só um pequeno pedaço de terra continuaria a ser habitável. Esse
deserto era a Degradação, e a última terra seria chamada de Untherak.
Por fim, como
para completar o castigo divino, os seis se tornaram uma, Una, que instauraria um
governo tirânico e escravocrata sobre as raças sobreviventes reunidas em
Untherak. Mas em si, a Deusa carregava consigo um grande segredo que ameaçaria
seu governo milenar. De posse desse segredo e guiados por um misterioso
guerreiro de capa vermelha, a cor proibida por Una, um pequeno e inesperado
grupo insurgente tenta derrubar o regime imposto e na busca por liberdade levar
a todos a verdade sobre a deusa. Em consequência desse ato insurgente é aceso o
estopim para uma aventura de dimensões épicas.
***
Lançado em parceria com a Comic Con Experience (CCPX), Ordem Vermelha é obra do escritor paulista
Felipe Castilho e o primeiro livro da duologia Filhos da Degradação. O conceito do livro, porém, nasceu de um
trabalho conjunto de Felipe com os escultores digitais Victor Hugo Sousa e
Rodrigo Bastos Didier, ambos responsáveis pela elaboração da arte visual dos
personagens principais da trama.
Logo que se começa a leitura somos apresentados à história do
surgimento das várias raças que compõem o universo de Untherak. Também ficamos
sabendo como estes entraram em conflito e como acabaram encarando uma sina
miserável. Nesse momento é muito difícil não se pensar em uma referência a obra
de J. R. R. Tolkien, autor da saga do Hobbit
e d’O Senhor dos Anéis, igualmente
povoadas por diferentes raças que coexistem (raramente de forma pacífica). Em Ordem Vermelha temos também um mundo
multirracial, entretanto bem menos complexo e não menos original.
Mas se esse é um livro de forte inspiração medieval que nos faz
lembrar do universo tolkieniano, por outro lado ele é também um livro que tem
um pé na modernidade. Castilho escreve
uma trama que parece ter saído de um jogo de RPG. A construção dos personagens é fabulosa e se harmoniza completamente
com os princípios do Role-playing
game. Felipe dá um destaque todo especial a descrição e
composição de cada raça e também dos personagens que figuram o elenco principal.
Aparência, estilo de luta, personalidade, raízes culturais e crenças,
conhecimentos e habilidades, filosofia de mundo e de vida, tudo é
primorosamente destacado e descrito sem cometer excessos ou valer-se de textos
longuíssimos, dando uma naturalidade incrível à narração. Além disso a
narrativa é dinâmica e cheia de movimento e lutas, o que reforça a ideia de
estar lendo um jogo de videogame.
Mas uma das características que mais me chamaram a atenção na
obra foi o seu sutil caráter multitemático.
Alternando entre “matizes cruas” e leves, Castilho trata em
sua obra de diversos temas marcantes (religião, escravidão, selvageria,
multiplicidade racial, corrupção, opressão, questões de gênero e cultura),
contudo, a temática central é, sem
dúvida, a opressão imposta pelo governo teocrático, ditatorial e escravocrata
de Una, que não só eliminava a liberdade e ceifava vidas, mas que tentava
também suprimir e destruir parte da identidade de cada povo escravizado. É desse
último ponto que emergem os outros temas que orbitam entorno da temática
central: a questão da religião nascida
do mito e das narrativas incessantemente reproduzidas; a abundância de culturas
e visões de mundo nascidas da multirracialidade e a imposição de uma crença
sobre os costumes, tradições e filosofias de outros grupos na tentativa de
suprimi-las e eliminá-las, mantendo um controle social maior sobre diferentes
grupos étnicos, o chamado etnocídio.
O resultado final é um livro de fantasia que vai além dos
elementos mágicos e sobrenaturais que caracterizam o gênero. Um livro que busca de forma sutil, mas visível, integrar temas
que constroem uma narrativa para além da fantasia pura (de mundos meramente
mágicos), ou da ação pura (de guerras sem muito sentido), para falar de lutas
que unem raças na busca pela liberdade e pela verdade. Uma luta que não é só
formada de baixas, mas que busca igualmente derrubar símbolos de opressão.
Por fim, como é de se esperar de uma duologia, temos um
desfecho em aberto, mas trata-se de um desfecho épico, cinematográfico e
instigante que revela um breve deslumbre dos desdobramentos da narrativa e do
que acontecerá no livro seguinte. Um desfecho que atiça a curiosidade do leitor
e deixa-o ansioso pela continuação.
Quer saber mais detalhes? Confira a resenha original completa do livro no blog Conhecer Tudo.
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