Resenhista: Eric Silva, do blog Conhecer Tudo.
Segundo livro da série do
Cemitério dos Livros Esquecidos, em O
Jogo do Anjo, voltamos à Barcelona, nos anos de 1920, para conhecer David
Martín, um jovem e talentoso escritor perseguido por desgraças desde a
infância. Com uma doença terminal e vendendo barato o seu talento para editores
oportunistas, David vive o seu pior momento e nenhuma perspectiva de futuro. É
nesse momento que surge Andreas Corelli, um misterioso editor estrangeiro que
trazia consigo uma proposta irrecusável: o restabelecimento da saúde de David e
uma pequena fortuna em troca de escrever um livro que influenciaria milhões de
pessoas. Contudo, a medida com que prossegue o trabalho com Corelli, David
descobre-se enredado a segredos perturbadores e a um rastro de sangue e mortes que
vai surgindo em seu caminho.
O
Jogo do Anjo é sem dúvidas um bom livro de forte atmosfera gótica e carregado de mistérios e uma obra
genuína ao estilo já consagrado do escritor espanhol. Ele também explora com mais intensidade o talento de
Zafón para escrever sobre o sobrenatural sem deixar de lado o misterioso e temas
como a loucura e a solidão, mas dentro do conjunto da série ele se difere
em vários aspectos em relação A Sombra do
Vento, livro que abre a coleção.
O Jogo do Anjo é essencialmente mais
gótico e flerta muito mais com o sobrenatural. A loucura e o desalento são
bem mais fortes na vida de seus personagens e por isso contrasta com a
melancolia e o sentimento de perda que é bem mais forte no séquito que povoa o
primeiro livro. Por essas características que eu diria que O Jogo do Anjo seria um livro mais “noturno”, mais sombrio. Acho que devido a isso que, nesse livro,
Barcelona se reveste de uma áurea bem mais soturna e pesada do que no primeiro.
Se,
em A Sombra do Vento, Barcelona é ao
mesmo tempo misteriosa e bela, em O Jogo
do Anjo ela se carrega com o peso de sua existência secular e demonstra-se
ainda mais hostil e sombria, gótica e antiga, uma cidade cheia de seus segredos
e de dramas silenciosos.
Outra
distinção está na organização da obra. Muito
diferente de A Sombra do Vento, onde
o livro era dividido em anos que acompanham o crescimento de Daniel e o
desenvolvimento desse personagem, em O
Jogo do Anjo, Zafón divide a trama em três grandes atos como se
assistíssemos a uma tragédia gótica.
Mas uma marca de continuidade entre as duas obras é o
estilo de narração. Zafón ainda preserva nesse livro o que há de melhor em sua
escrita: o magnetismo e a originalidade que marcadamente brinca com as palavras
e faz construções de grande beleza estética. Muito bem estruturada ela flui muito bem sem nunca ser
cansativa e por vezes parece se aproximar do poético sem deixar de ser gótica,
constatando que de fato Zafón domina a
arte de escrever bem.
O livro não
produziu em mim o mesmo fascínio e arrebatamento que A Sombra do Vento porque achei que houve uma inversão na proposta
inicial do primeiro tomo da série. Enquanto A Sombra do Vento é um livro realista com um enredo que flerta com
o sobrenatural, O Jogo do Anjo é um
livro a respeito do sobrenatural, mas com ares de realista quando nos faz duvidar
muitas vezes da sanidade do narrador e logo também da pretensa natureza
supra-humana de Corelli.
Por fim, o
autor repete a fórmula de um enredo com desfecho fechado, o que aumenta as
expectativas em relação ao volume seguinte da série, mas de um jeito diferente.
A expectativa não é com o que acontecerá em seguir, mas como a história dos
dois primeiros vão se ligar aos demais.
Quer saber mais detalhes? Confira a resenha originalcompleta do livro no blog Conhecer Tudo.
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